segunda-feira, 25 de julho de 2016

Cafeterias cubanas: nosso pão de todo (mesmo) dia

http://ultimosegundo.ig.com.br/mundo/nyt/cubanos+aproveitam+oportunidade+de+empreendedorismo/n1237986218477.html

https://havanahome.wordpress.com

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Andando por Vedado










Comprando em Cuba: as "Tiendas"













A (impressionante) FAC (Fábrica de Arte Cubana)
"Saímos de Havana e entramos num cenário de filme americano". Por mais ingênuo que pareça, não acho que há forma mais precisa para descrever a FAC do que estas palavras...

Essa fábrica - literalmente o galpão de uma fábrica abandonada, completamente adaptada para ser um híbrido de casa noturna com exposição de artes - se localiza em Vedado, próximo à ponte que conecta o bairro com a região de Miramar, escondida numa escura rua de um bairro residencial.
A Fábrica comporta um sem número de salas com vídeos, quadros, esculturas, fotografias, desenhos, pinturas que convivem ao mesmo tempo com dois ambientes (ou naves) para shows ao vivo. Seria como se num episódio de Dragon Ball Z uma exposição do IA tenha feito fusão com um bar alternativo de alguma cidade. Além dos shows e da exposição, cada pedaço desta fábrica é irrigada por quatro bares que despejam cervejas, doses e drinks em profusão para todos os clientes.

Os preços lá não são lá muito amigáveis, mas é sempre bom lembrarmos que estamos em Cuba. Todos, absolutamente todos os estabelecimentos que são voltados para atender os turistas têm essa característica. Esqueça os padrões brasileiros na hora de entornar uma lata de cerveja - a não ser, é claro, que você já esteja acostumado com os preços da "night" campineira e paulistana. Como sempre achei um absurdo ver os bacanas pagarem dez reais numa garrafinha de Heineken na Paulista, não me satisfazia também com o cardápio da fábrica. Cerveja? Oito reais. Mojito? Dez. Mesmo uma dose de rum assustava meu pobre bolsinho... A entrada mesmo era aceitável - 2 CUC. 2 CUCs que realmente valem a pena.



De qualquer forma, esses 2 CUCs quase nos espantaram do local. Isso porque caímos na FAC sem grandes intenções, sem a menor ideia do que encontraríamos ou do que esperar. Um pouco traumatizados com fracassos anteriores, ficamos em um breve debate se realmente iríamos entrar no local ou não.  De qualquer forma decidimos arriscar esse local na nossa última noite cubana. E olhando agora posso dizer que FELIZMENTE decidimos arriscar. Seria muito triste deixar cuba sem experimentar esse lugar tão singular.



Não tem jeito. É simplesmente fantástico. Bancando o advogado do diabo, entendo minha cautela ao entrar, pois por fora é impossível entender exatamente o que era essa Fábrica. Aliás, mesmo que alguém tentasse nos explicar não teria como, porque nos faltavam referências por nunca ter visto nada nada parecido. Nada parecido mesmo, exceto pelos filmes que mostram casas noturnas fictícias, completamente avant-garde e que só os que realmente estão por dentro dos rolês noturnos e artísticos lá frequentam e se embebedam. Eu e a Roberta falávamos que era algo híbrido entre uma boate Nova Iorquina que aparece na quarta temporada de Orange is the New Black e algum rolê do IA da Unicamp, uma dança ou algum festival nesse sentido. Ahahaha.




A grande verdade é que a noite foi fantástica. Olhar a exposição, assistir os shows, beber uma coisa ou outra... É tudo muito contagiante, tudo muito intenso para ser experimentado ao mesmo tempo. Além disso, fomos agraciados com o doce tempero do sucesso inesperado. Putz, saímos para ver o que é essa FAC e talvez comer um spaghetti mas acabamos levando uma experiência inesquecível em nossa viagem.
O curioso foi ver a nossa anfitriã Miriam alegar que os "turistas amam" a fábrica e que "todos os países têm Fábricas de Arte assim". Puxa, dona Miriam. Tenho vinte e sete anos de idade e nunca sequer senti o cheiro de algo minimamente parecido com isso no Brasil. Não mesmo! Nem no Chile, nem na Argentina.. Aliás, uma pena isso, porque é algo fantástico. Quem diria que é possível encontrar isso num bairro residencial de Havana?



Talvez isso seja a maior marca de Cuba, e principalmente de sua capital: o inesperado, o surpreendente. Se em um momento você numa quadra você está andando em uma rua escura, sem nada de diferente, ao virar a esquina não é incomum se surpreender com algo como uma FAC ou com um Teatro Abelardo Estorino, com um show de Jazz gratuito num teatro de alta qualidade, com um festival de música em plena rua, iluminando a noite cubana... A cidade é completamente viva, e em sua energia cotidiana cada dia que se passa tem algo a ser descoberto.



E, ah, é claro, o show.

Dizia-se rock. Mas a maldição de todo termo amplo é que as várias interpretações permitem decepções.. Antes do show o telão passava um show ao vivo do Rammstein. Eu pensei, "putz, vem coisa pesada. Massa!". Mas não passou de um show misto de Rockabilly e aquelas músicas que alegram os quarentões no churrasco de família:

"Hold the line,
Love isn't always on time, oh oh oh"

Mas a banda em si era bem bacana. Além de ter uma baixista muito parecida com uma colega nossa, ela contava com a participação especial de uma figura curiosa de nossa viagem.. Chamamos-o de "Salim", e era um cantor de perfil muito atípico nas bandas brasileiras. Lá com seus cinquenta anos e uma inconstestável careca, ela cantava à lá Freddy Mercury enquanto suava em bicas. Espirituoso até a última celula de seu corpo, fazia caras e bocas ao cantar McHammer ou Toto.
O mais engraçado de nosso querido cantor é que reencontramos ele no Yesterday, em Trinidad.. Com outra participação especial em outra banda e quase com o mesmo repertório. Como disse, nada mais Cuba que o surpreendente e o inesperado.

Portanto, por mais que a FAC engane e pareça um cenário de filme, era impossível não lembrarmos que ainda estávamos em Cuba. E nada menos que uma das melhores noites em solo cubano.
A noite em Havana















Plaza de la Revolución